Governo transfere gestão de centro que atende dependentes químicos da região da cracolândia

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O Governo de São Paulo vai transferir, até o começo de abril, a gestão do Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas) para a organização social de saúde SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina). A informação foi passada à reportagem por funcionários do local.

Segundo o governo paulista, o convênio prevê que todos os serviços que já acontecem na unidade serão continuados sem quaisquer prejuízos ao cidadão.

“O Cratod seguirá como porta de entrada dos usuários que procuram ajuda no tratamento, com o mesmo perfil do CAPSad (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas)”, diz parte da nota enviada pelo governo.

Além disso, o escopo da unidade será ampliado, transformando o local num Hub de cuidados em crack e outras drogas, ou seja, um polo agregador e norteador para outras estratégias de cuidados, como por exemplo, acolhimento assistido com 40 vagas, parcerias como grupos de mútuo ajuda, coletivos da sociedade civil organizados ou não, missionários que atuam no território.

Sede do Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas) no Bom Retiro, centro paulistano – SPDM | Foto: Divulgação

O Cratod existe desde 2002 e está localizado no Bom Retiro, no centro paulistano. O local atende principalmente dependentes químicos da região da cracolândia.

Cerca de 160 funcionários da SPDM já atuam nas equipes de atendimento multidisciplinar do Cratod por meio de convênio.

Os demais, que somam pouco mais de 110 servidores públicos, foram comunicados pelo RH nesta terça-feira (14), de que serão transferidos a outros serviços e para isso deverão apresentar duas opções de locais para a realocação.

Eles afirmam que a direção do centro está sendo ignorada e não houve nenhuma conversa formal sobre a mudança da gestão e nem de plano de trabalho.

Mudança nos serviços

Segundo Paulo Moura, um dos diretores do SindSaúde-SP (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo), apesar das informações desencontradas, já há uma preocupação por parte dos servidores e usuários em relação a uma possível mudança na característica dos serviços, e que o local acabe se transformando em um centro de triagem para medidas higienistas, de internação compulsória, o que seria um retrocesso na saúde mental do estado.

Para a professora da FGV-Eaesp Ana Maria Malik, se a gestão fizer o que tem que ser feito, vai facilitar que o atendimento ocorra. “A gestão é atividade meio, e o atendimento é atividade fim. Se não impedirem o pessoal técnico de trabalhar, não vai acontecer nada no que diz respeito ao atendimento.”

“Alguns serviços gerenciados pela SPDM mantêm a sua função original e com uma gestão, a rigor, mais eficaz. É o caso do Hospital Geral de Pirajussara e da rede básica de Uberlândia [MG]. Virar um centro de triagem para medidas higienistas significa desvirtuar a missão do Cratod. Acredito que é só mudança de gestão”, finaliza Malik.

Fonte: Folha de São Paulo | Patrícia Pasquini