Henrique Prata, do Hospital de Amor: “Nunca pensei em desistir”

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Henrique Prata, do Hospital de Amor: “Nunca pensei em desistir”

Ele não é médico, mas sua luta no setor filantrópico já salvou muitas vidas. À frente do Hospital de Amor há 35 anos, Henrique Prata deu continuidade com maestria ao sonho de seus pais, fundadores do Hospital São Judas Tadeu, que hoje é a unidade de cuidados paliativos do Hospital de Amor, centro avançado em câncer em Barretos, presente em 26 estados, com atendimento 100% gratuito.

Em entrevista para Gestão Primme Saúde, Prata fala sobre o desafio de gerir uma instituição filantrópica, o seu trabalho intenso na busca por recursos e denuncia o que denomina de Medicina do dinheiro em seu livro “O Parque Lobos a medicina privada do dinheiro limitando a prática da saúde pública no Brasil”, lançado em 2023: “É uma crítica muito forte na vontade de eu trazer uma nova consciência na sociedade. O livro é um conteúdo que nasceu muito firme no meu coração na importância de eu falar.”

 

Este ano, o sr. completa 35 anos à frente do Hospital de Amor. Qual é o seu maior aprendizado olhando essa trajetória de mais de três décadas?

O maior aprendizado é saber que nós, com vocação de filantropia, enxergamos claramente a nossa missão e responsabilidade, abrimos frentes e realizamos o serviço unicamente pela honestidade da proposta de fazer o tratamento por amor e tratar as pessoas iguais. Isso sela uma parceria com a sociedade cristã que enxerga esse valor e participa disso. É a sociedade que faz com que nós possamos continuar de pé e não nos deitar como é a vontade do dinheiro público. 

Desde a transformação do pequeno Hospital São Judas Tadeu até o Complexo Hospitalar de Oncologia Líder na América Latina, quais foram os maiores desafios que você enfrentou nessa jornada de expansão e crescimento?

O maior desafio é a inovação no Parque Tecnológico, principalmente com a entrada da nova medicina em câncer, a imunoterapia, os novos robôs, as cirurgias minimamente evasivas. Esses são os desafios maiores que o serviço público não consegue acompanhar. Nós tivemos uma chance extraordinária quando nasceu um pedido do ex-presidente José Alencar para se criar um fundo para essas finalidades, mas esse projeto se enfraqueceu e não foi suficiente. Hoje, não temos uma linha que possa favorecer os hospitais filantrópicos que atende 100% o SUS e terem alcance a essas tecnologias.

Há um enorme desafio diante do equilíbrio da sustentabilidade financeira com a missão de oferecer tratamento de alta qualidade para pacientes oncológicos, especialmente considerando a complexidade do sistema de saúde brasileiro. Quais são suas ações e estratégias para conseguir alcançar esse equilíbrio?

As minhas ações é buscar recurso incessante na sociedade como Imposto de Renda das empresas, renúncia fiscal, doações em campanhas de diversos tipos com leilão de gado e shows. Mas, ao mesmo tempo, eu vou de frente com o governo, apontando as irresponsabilidades de não abrir recursos e não abrir condições de igualdade. Porque a medicina privada tem muitas benécias e a medicina pública tem muito trava e dificuldade. Eu tenho a responsabilidade de buscar recursos em diversas formas, mas uso também a minha capacidade do direito de fazer críticas abertas e muito severas com relação a essa desigualdade que existe entre serviço público e o privado.

O senhor já pensou em desistir do Hospital de Amor diante das dificuldades?

Nunca pensei em desistir. Quanto mais eu vejo a desigualdade, mais me fortaleço para lutar pelos recursos. Não só buscar, mas como lutar por eles. Minha luta não é sobre o meu interesse próprio, mas sim pelo interesse de todos os processos de tratamento, principalmente o câncer no serviço público que é muito desigual ao que temos hoje na medicina privada. Então, ao invés de me desanimar, eu sempre me fortaleço mais.

Como você enxerga o papel dos hospitais filantrópicos na atualidade brasileira?

Tivemos uma importância e relevância muito grande nos anos 50 e 60. O que manchou a filantropia foi o abuso de alguns médicos da medicina privada em cobrar a diferença da tabela SUS do próprio usuário do serviço SUS. Isso foi um interesse também da política de governo que, ao congelar a tabela SUS, jogava o usuário na boca do leão, uma vez que, precisando de assistência e com as filas imensa, esse usuário foi para as clínicas populares. Acredito que o serviço misto (metade SUS metade privado) prejudicou a concepção do serviço público, mas isso aconteceu com plena consciência dos nossos políticos, pois também era interesse de  desinchar a dependência do serviço público só para o governo.

Como você equilibra a oferta de serviços de saúde gratuitos para comunidade com a necessidade de receitas para manter a operação de um hospital filantrópico?

A tabela SUS, congelada nesses 22 anos, obrigou as instituições filantrópica a aumentar a oferta do serviço de convênio. Isso tirou a finalidade das filantrópicas, priorizando o serviço privado e diminuindo o público. A instituição privada tem uma comunhão com recursos financeiro e as filantrópicas tem uma comunhão com Deus. A Associação Brasileira de Instituições Católicas de Saúde (ABICS) veio agora trazer uma oportunidade para fazermos um trabalho em comum e fomentar a responsabilidade na consciência dos nossos governantes de que isso não pode mais caminhar do jeito que tá. Temos que colocar o recurso certo na saúde pública.

Como você avalia a atuação de parlamentares em ajudar o hospital de amor? 

Nos últimos 10 anos, tenho visto uma consciência de nossos parlamentares muito maior do que antes. Eles têm buscado hoje, para o Hospital de Amor, muitos recursos e nós temos crescido muito no investimento e no custeio para a finalidade de prevenção de câncer. 

Com a sua experiência de mais de três décadas na gestão Hospitalar, qual o seu conselho para os novos gestores que estão começando suas carreiras na área de saúde, especialmente em contextos desafiadores como tratamento de câncer?

Quem deseja trabalhar com filantropia na área de saúde tem que crescer muita fé porque vai ficando insuportável o peso e o rolo compressor que é a falta de dinheiro. 

Em seu livro “O Parque Lobos a medicina privada do dinheiro limitando a prática da saúde pública no Brasil”, o sr. fala sobre a injustiça na saúde como podemos levantar essa discussão em busca do melhor diálogo entre público e privado?

O livro foi um desabafo. É um abuso a Medicina do dinheiro ganhar muito espaço e a medicina pública estar se deteriorando e perdendo espaço. O livro mostra claramente as benécias, mordomias e abusos da medicina privada. É uma crítica muito forte na vontade de eu trazer uma nova consciência na sociedade, mostrando que esse abuso tem limite e que alguém tem que denunciar isso. E esse alguém é um homem que tem gestão, que faz o que faz e que tem o direito de mostrar claramente a injustiça e as críticas. O livro é um conteúdo que nasceu muito firme no meu coração na importância de eu falar.

 

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